CATAGUAZES
Vestirei traje de gala
no dia em que Cataguases morrer.
Seguirei a marcha fúnebre, em oração.
As sombras da morte amedrontarão seus filhos.
Não, não suportarei -
pensei um dia!
Catauá morreu!
Foi anteontem.
Cataguazes morreu!
Noticiou o jornal.
Uma tragédia!
Homens e mulheres rodando a praça
como um carrocel divergente.
A Praça Rui Barbosa sumiu!
Desapareceu, assim assim
como a passagem de um furação que vomitou sua ira.
E os desaparecidos:
o mural Inconfidência Mineira, de Portinari,
Djanira e Bruno Giorgi,
o filho da Dona Cidinha,
o flautista, como aquele de Hamelin,
o velho Page - herdeiro das carpideiras
as Marias devotas de Santa Rita de Cássia,
e o Colégio Cataguases, de Niemeyer?
Carpinteiros, sobreviventes, marcham em passos lentos
num lamento: são os cupins! São os cupins!
Gemiam os alto-falantes da sede municipal.
Depois da grama sobre o presente passado,
o silêncio...
Cataguases morreu?
Vestirei o luto,
Enquanto as lágrimas submergem o berço.
Nascedouro-perdido.
Nessa Comala mineira,
há almas volitando
sobre as ruas e avenidas.
Os mortos falam, deixam cantigas, ditam romances,
afagam as frontes,
esperam o futuro, como em Macondo.
O mundo questiona,
ainda há ourovida nessa Minas?
Escuto rumores, enquanto agonizo:
Cataguazes morreu, Cataguases?
Cataguazes! Cataguases!
As águas do rio Pomba
Lavam-levam todos os tempos.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------